sábado, 27 de julho de 2013

Santo Príncipe Vladimir de Kiev, Igual aos Apóstolos


15 de Julho (CE) /28 de Julho (CC)




No final do século IX, o povo russo começava a viver sob a influência do Cristianismo, depois da conversão da futura santa Olga de Kiev.

Neto de Santa Olga, Vladimir era o filho mais novo de Sviatoslav de Kiev, com sua empregada Malusha. Malusha, era uma profetisa que viveu até os 100 anos de idade e fora trazida de sua caverna ao palácio para prever o futuro.

O irmão de Malusha, Dobrynya, era tutor de Vladimir e seu conselheiro mais fiel. Uma tradição hagiográfica, liga sua infância ao nome de sua avó, Olga Prekrasa, que era cristã e governava a capital durante as freqüentes campanhas militares de Esviatoslav, seu filho.

Com a morte do pai, o príncipe Vladimir, hábil e audacioso, começou a governar as terras que herdara. Guerreou contra o irmão que estava em Kiev e o venceu. Subiu ao trono de Kiev em 980. No início, idólatra e animado por um zeloso ardor pelos deuses vikings, chegou a dedicar um templo ao deus do trovão e do relâmpago, Perun, onde sacrifícios humanos eram realizados.

O príncipe levava uma vida devassa. Ao retornar de uma campanha vitoriosa contra os Jatvagues (983), ele decidiu dar graças aos deuses, por meio de um sacrifício. As vítimas escolhidas foram um mercador varegue, chamado Teodoro, e seu filho João, cristãos, parentes de sua avó Olga. As circunstâncias dessas mortes e a firmeza no testemunho da fé de ambos impressionaram Vladimir.

A maneira como eles se entregaram à morte, surpreendeu o príncipe Vladimir, tocando-lhe, fortemente, a consciência. Após haver consultado seus conselheiros, ele enviou embaixadores a diversos países, para obter informações de como os povos viviam a religião. Quando os emissários, enviados à capital bizantina assistiram às diversas cerimônias que eram realizadas na Igreja de Santa Sofia, ficaram impressionados: 

"Nós não conseguíamos entender se estávamos no Céu ou na Terra. Pois, não existe, aqui na Terra, um espetáculo como aquele, nem tamanha beleza. Nós não somos capazes de definir tal magnificência. Sabemos, apenas, que é lá que Deus vive com os homens e que sua cultura ultrapassa a de todos os outros países. Jamais esqueceremos o que vimos em beleza e compreendemos que, doravante, será impossível, para nós, viver na Rússia de forma diferente!"

Convencido de que a glória manifestada através das celebrações e das liturgias era o resplendor da Verdade, o príncipe Vladimir decidiu tornar-se cristão. Aceitou a Fé Cristã e mudou completamente sua atitude. A mudança ocorreu de forma rápida, mas gradual. Primeiro, ordenou aos sábios da corte que viajassem a diversos países para verificarem qual era a religião verdadeira. Em seguida, chamou religiosos dos diversos países muçulmanos, judeus, budistas e cristãos. O próprio Vladimir questionou todos eles, ouvindo, atento, suas pregações. O que mais o impressionou foi o grego que pregou o evangelho de Cristo. Os sábios voltaram tocados pela graça, com toda a manifestação de fé em Cristo que viram em Constantinopla, no templo de Santa Sofia. Então eles disseram a Vladimir: 

"Se a religião de Cristo não fosse a verdadeira, então sua avó Olga, que era sábia, não a teria aceitado".

Vladimir começou a estudar o Evangelho e foi batizado em 989. Logo em seguida, recebeu o sacramento do matrimonio com a princesa Ana, filha de Basílio de Constantinopla. Desde então, chegavam cada vez mais sacerdotes missionários que percorriam seus domínios catequizando o povo e ministrando o batismo. O Cristianismo consolidou-se ainda mais quando Vladimir casou-se com a piedosa neta do Imperador da Germânia, após o falecimento da princesa Ana.

Modificando completamente seu caráter, e adotando a doçura e singeleza das atitudes evangélicas, Vladimir suprimiu a pena de morte e passou a levar uma vida agradável a Deus, que fez com que seu povo passasse a defini-lo como o "Sol resplandecente". Ele substituiu os templos pagãos por Igrejas e mandou erigir um esplêndido santuário dedicado à Dormição da Mãe de Deus, exatamente no local onde foram martirizados São Teodoro e o filho, João.

Vladimir morreu em Berestovo, perto de Kiev, em 1015. Seu corpo foi desmembrado em várias partes que foram distribuídas entre numerosas fundações sagradas onde são veneradas como relíquias. Uma das maiores catedrais de Kievan é dedicada a ele.


domingo, 21 de julho de 2013

O MILAGROSO ÍCONE DA VIRGEM DE KAZAN




O Ícone de Nossa Senhora de Kazan, em estilo grego-bizantino, teria sido pintado, segundo os especialistas, em Constantinopla, no século XIII. A obra apresenta a imagem de meio corpo da Virgem carregando o Menino Jesus, que se encontra quase de pé numa atitude de benção para com sua mãe, para quem ele ergue sua mão direita.

O ícone encontra-se recoberto com uma lâmina de prata que cobre a figura e as vestimentas, deixando visíveis apenas os rostos da Mãe e do Filho. Sob a cobertura está o desenho e as cores se conservam perfeitamente, o que se leva a considerá-lo não apenas como uma peça de altíssimo valor religioso, mas também uma verdadeira obra de arte. 
A lâmina que recobre a imagem data do século XVII e contém incrustações de diamantes, esmeraldas, rubis, safiras e pérolas, a maior parte dos quais foram acumuladas por diversos doadores que deste modo quiseram expressar sua devoção à Sagrada Imagem.

No dia 1 de outubro de 1552, festa da «Proteção da Virgem» o exército do Czar Ivan, o Terrível, assaltou as muralhas da cidade de Kazan, até então capital do Reino Tártaro. O Czar, em ação de graças pela vitória obtida, ordena a construção de uma grande basílica em honra da Mãe de Deus, dedicando-a ao mistério da Anunciação. 

No ano de 1579 Kazan foi assolada por um violento incêndio que destruiu a metade da cidade. Enquanto a população se recuperava da tragédia, a Virgem aparece a uma menina de nove anos. Manda-lhe escavar as ruínas porque ali encontraria o Sagrado Ícone.
No dia 8 de julho de 1579, é encontrada entre as cinzas a imagem de Nossa Senhora de Kazan. Trasladada até a Catedral da Anunciação de Kazan, começa a ser objeto de grande devoção religiosa, sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres. Ali permaneceu até por volta do ano de 1612 quando é transportada para a cidade de Moscou. 

Em 1790 o Czar Pedro, o Grande, a invoca como «Protetora e Estandarte» na batalha de Poltava, contra Carlos XII da Suécia. Após a vitória russa o ícone é entronizado na Catedral de Moscou, sendo em seguida transferida para São Petersburgo e colocada num santuário a ela especialmente dedicado. 

Na noite de 29 de junho de 1904, durante uma revolta popular, desaparece junto a outros tesouros do Santuário. Em 1970, cerca de sessenta anos depois, reaparece numa exposição de arte nos Estados Unidos. Neste contexto, foi comprado pelo «Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima» organização católica de devoção à Virgem de Fátima. Prosseguindo sua caminhada foi entronizado na Capela Bizantina, em Fátima, Portugal e, em 1993, foi entregue ao papa por esta organização. 

O bispo de Roma conservou o ícone na capela de seu apartamento, esperando a oportunidade de encontrar-se com o patriarca Alexis II para devolvê-lo, pois este, enquanto chefe atual da Igreja ortodoxa russa, era considerado seu legítimo proprietário. 

Em 28 de agosto de 2004, o Papa João Paulo II, manifestando o desejo de promover as relações fraternas com a Igreja Ortodoxa Russa, devolveu ao Patriarcado de Moscou este que é um dos ícones mais venerados pelos ortodoxos através da história.





CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II AO PATRIARCA DE MOSCOVO E DE TODAS AS RÚSSIAS ALEIXO II

  
A Sua Santidade Aleixo II
Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias

Após longo período de provas e sofrimentos que, no século passado, se abateram sobre a Igreja ortodoxa e sobre o povo russo, o Senhor da história, que tudo dispõe segundo a sua vontade, concedeu-nos viver hoje na alegria e na esperança comum, por ocasião do regresso do Ícone da Mãe de Deus de Kazan' à sua pátria.

Encontro do Patriarca Aléxis II
com o Cardeal Walter Kasper
Na alegria e nos sentimentos de comunhão que me animam e que animaram os meus Predecessores, sempre atentos ao povo russo, sinto-me feliz que Sua Santidade receba neste dia a Delegação por mim enviada. Guiada pelo Cardeal Walter Kasper e por Edgard Theodore McCarrick, ela tem a tarefa de entregar nas suas mãos este Ícone sagrado, tão estreitamente ligado à fé e à história dos cristãos na Rússia.

Por um desígnio insondável da Divina Providência, nos longos anos da peregrinação, a Mãe de Deus, no seu Ícone sagrado conhecido como Kazanskaya, reuniu à sua volta tanto os fiéis ortodoxos como os seus irmãos católicos de outras partes do mundo, que rezaram ardentemente pela Igreja e pelo povo que ela protegia há séculos. Mais recentemente, a Divina Providência permitiu que o povo e a Igreja na Rússia reencontrassem a liberdade e que o muro que separava a Europa do Leste da Europa do Oeste caísse. Apesar da divisão que, infelizmente, ainda persiste entre os cristãos, este Ícone sagrado mostra-se como um dos símbolos da unidade dos discípulos do Filho unigénito de Deus, d'Aquele para o qual ela guia todos nós.

O Bispo de Roma rezou diante deste Ícone sagrado, implorando que chegue o dia no qual poderemos proclamar ao mundo, com uma só voz e na comunhão visível, a salvação do nosso único Salvador e a sua vitória sobre todas as forças malvadas e ímpias que danificam a nossa fé e o nosso testemunho de unidade.

Uno-me hoje na oração a Vossa Santidade, caríssimo Irmão, ao Episcopado da Igreja ortodoxa russa, aos sacerdotes, aos monges e monjas de clausura, e ao Povo de Deus na terra russa. Todos os filhos e filhas da Igreja Católica se unem a esta oração, com a sua profunda devoção e veneração pela Santa Mãe de Deus. Que esta venerável imagem guie todos nós no nosso caminho evangélico no seguimento de Cristo, e proteja o povo ao qual ele regressa e toda a humanidade!

Que a Santa Mãe de Deus dirija o seu olhar materno para os homens e mulheres do nosso tempo; ampare os crentes, para que não se afastem do caminho que Deus traçou para eles:  a proclamação de Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e o testemunho corajoso da sua fé na sociedade e no conjunto das nações. Neste dia, rezamos com confiança à Santíssima Virgem, pois sabemos que ela implora para nós e para todas as nações o dom da paz.

Com estes sentimentos de caridade, na alegria ligada ao acontecimento que celebramos hoje, e com o olhar dirigido para a Santa Mãe de Deus, troco com Vossa Santidade um abraço fraterno em nosso Senhor.

Vaticano, 25 de Agosto de 2004.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Santo Elias, Profet


20 de Julho (CE) /02 de Agosto (CC)



Muitos são os santos do Antigo Testamento contemplados pelo calendário litúrgico bizantino e celebrados num dia particular. Em geral não encontramos a celebração correspondente no contexto católico romano. No dia 20 de julho no Oriente se comemora o profeta Elias, “santo e glorioso,” conforme aparece no título do Minéon. Não possuímos escritos desse profeta que viveu no IX século antes de Cristo, mas ele se destaca entre os “profetas de ação” em Israel. Inúmeras vezes, nos livros sagrados, se fala do seu zelo em defender a verdadeira fé e piedade, como também da sua vida austera e rica em milagres, que se concluiu de maneira extraordinária. Com efeito Elias, num carro de fogo, “subiu no turbilhão para o céu” na presença de Eliseu, que herdou seu espírito. É um detalhe, esse, muito evidenciado no Oriente. Dão testemunho disso os muitos ícones, mormente russos, que representam Elias arrebatado da terra para as esferas celestes, numa carruagem puxada por cavalos chamejantes. Desde as Vésperas, já encontramos uma alusão a esse episódio e, nos tropários sucessivos, se fala do seu epifânico conhecimento de Deus, que se lhe manifestou no monte Horeb como no meio de uma “brisa suave.” Os textos falam também da morte dos falsos profetas, depois da prova no monte Carmelo, da longa estiagem, sinal da punição divina e de outros episódios da sua vida. As três leituras bíblicas, excepcionalmente longas, lidas na tarde do dia 19 de julho, são extraídas do terceiro livro dos Reis (correspondente a lReis da Vulgata). Primeiramente se lê o capítulo 17 inteiro, depois uma boa parte dos capítulos 18 e 19. Na última leitura se lêem os versículos finais do capítulo 19, que tratam da vocação de Eliseu, e 2Reis (2,1 14) em que é narrado o episódio do manto que caíra dos ombros de Elias e que Eliseu apanhara, herdando assim também o seu espírito.

No tropário conclusivo, e no kontákion, assim é lembrado o profeta que apareceu junto com Moisés, na Transfiguração de Cristo:

Tropário Modo 4

“Anjo na carne, fundamento dos profetas,
segundo precursor da vinda do Cristo,
o glorioso Elias, que do alto faz descer a graça sobre Eliseu,
afasta as doenças e purifica os leprosos.
Sobre os que o veneram faz jorrar as curas.”

Kontákion Modo 2

“Profeta de sublime nome, Elias,
que prevês os grandes feitos do nosso Deus
e submetes à tua palavra as nuvens portadoras de chuva,
roga por nós ao único Amigo dos homens.”


O profeta, nascido em Tesbes, além do Jordão, no país de Galaad, desde a primeira infância teve sonhos prodigiosos. Essa tradição foi transmitida por Santo Epifânio de Chipre e a encontramos escrita numa estrofe da Ode primeira do Cânon:

“Na hora do teu nascimento, ó profeta bem aventurado, teu pai teve a revelação dum grande milagre, pois te viu nutrido por uma chama e envolvido em faixas chamejantes; por teus rogos, pois, livra nos do fogo eterno.”

O nome do profeta Elias significa “o meu Deus é IHVH” — indica pois um programa de vida. Isso é demonstrado em numerosos episódios que o “próprio” do Ofício bizantino no dia 20 de julho, como sempre marcadamente baseado na Bíblia, várias vezes recorda e exalta. Em um breve hino das Vésperas encontramos:

“Tu paraste as águas do céu e por um corvo foste nutrido, confundiste os reis e fizeste morrer os sacerdotes de Baal; do alto do céu fizeste descer o fogo e por duas vezes fizeste perecer cinquenta homens; tu alimentaste a viúva de Sarepta com o óleo e o pouco de farinha que lhe restava e por tua oração ressuscitaste lhe o filho; acendeste o fogo sobre o altar encharcado e andaste sobre as águas do rio Jordão; enfim foste arrebatado ao céu sobre um carro de fogo e agraciaste duplamente a Eliseu: intercede sem cessar junto de Deus, pela salvação das nossas almas.”

A figura austera do profeta, suscitado por Deus para combater a idolatria no povo de Israel sob o reinado de Acab e de Ocozias, é ainda hoje venerado também pelos hebreus e pelos árabes. Para os cristãos bizantinos, a figura de Elias é ocasião de lembrar o ensinamento evangélico, como no texto deste ikos que apresentamos como conclusão:

“Ao ver a grande iniquidade dos homens e o grande amor de Deus para com eles, o profeta Elias irritou se e, indignado, dirigiu se ao Deus de misericórdia com palavras impiedosas dizendo: ‘ó justo juiz, vinga te contra os que transgridem a tua lei!' Mas Deus, em sua ternura, não quis punir os que o haviam ofendido: como sempre, o único amigo dos homens aguarda a conversão de todos.”