domingo, 21 de julho de 2013

O MILAGROSO ÍCONE DA VIRGEM DE KAZAN




O Ícone de Nossa Senhora de Kazan, em estilo grego-bizantino, teria sido pintado, segundo os especialistas, em Constantinopla, no século XIII. A obra apresenta a imagem de meio corpo da Virgem carregando o Menino Jesus, que se encontra quase de pé numa atitude de benção para com sua mãe, para quem ele ergue sua mão direita.

O ícone encontra-se recoberto com uma lâmina de prata que cobre a figura e as vestimentas, deixando visíveis apenas os rostos da Mãe e do Filho. Sob a cobertura está o desenho e as cores se conservam perfeitamente, o que se leva a considerá-lo não apenas como uma peça de altíssimo valor religioso, mas também uma verdadeira obra de arte. 
A lâmina que recobre a imagem data do século XVII e contém incrustações de diamantes, esmeraldas, rubis, safiras e pérolas, a maior parte dos quais foram acumuladas por diversos doadores que deste modo quiseram expressar sua devoção à Sagrada Imagem.

No dia 1 de outubro de 1552, festa da «Proteção da Virgem» o exército do Czar Ivan, o Terrível, assaltou as muralhas da cidade de Kazan, até então capital do Reino Tártaro. O Czar, em ação de graças pela vitória obtida, ordena a construção de uma grande basílica em honra da Mãe de Deus, dedicando-a ao mistério da Anunciação. 

No ano de 1579 Kazan foi assolada por um violento incêndio que destruiu a metade da cidade. Enquanto a população se recuperava da tragédia, a Virgem aparece a uma menina de nove anos. Manda-lhe escavar as ruínas porque ali encontraria o Sagrado Ícone.
No dia 8 de julho de 1579, é encontrada entre as cinzas a imagem de Nossa Senhora de Kazan. Trasladada até a Catedral da Anunciação de Kazan, começa a ser objeto de grande devoção religiosa, sendo-lhe atribuídos inúmeros milagres. Ali permaneceu até por volta do ano de 1612 quando é transportada para a cidade de Moscou. 

Em 1790 o Czar Pedro, o Grande, a invoca como «Protetora e Estandarte» na batalha de Poltava, contra Carlos XII da Suécia. Após a vitória russa o ícone é entronizado na Catedral de Moscou, sendo em seguida transferida para São Petersburgo e colocada num santuário a ela especialmente dedicado. 

Na noite de 29 de junho de 1904, durante uma revolta popular, desaparece junto a outros tesouros do Santuário. Em 1970, cerca de sessenta anos depois, reaparece numa exposição de arte nos Estados Unidos. Neste contexto, foi comprado pelo «Centro Russo Católico de Nossa Senhora de Fátima» organização católica de devoção à Virgem de Fátima. Prosseguindo sua caminhada foi entronizado na Capela Bizantina, em Fátima, Portugal e, em 1993, foi entregue ao papa por esta organização. 

O bispo de Roma conservou o ícone na capela de seu apartamento, esperando a oportunidade de encontrar-se com o patriarca Alexis II para devolvê-lo, pois este, enquanto chefe atual da Igreja ortodoxa russa, era considerado seu legítimo proprietário. 

Em 28 de agosto de 2004, o Papa João Paulo II, manifestando o desejo de promover as relações fraternas com a Igreja Ortodoxa Russa, devolveu ao Patriarcado de Moscou este que é um dos ícones mais venerados pelos ortodoxos através da história.





CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II AO PATRIARCA DE MOSCOVO E DE TODAS AS RÚSSIAS ALEIXO II

  
A Sua Santidade Aleixo II
Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias

Após longo período de provas e sofrimentos que, no século passado, se abateram sobre a Igreja ortodoxa e sobre o povo russo, o Senhor da história, que tudo dispõe segundo a sua vontade, concedeu-nos viver hoje na alegria e na esperança comum, por ocasião do regresso do Ícone da Mãe de Deus de Kazan' à sua pátria.

Encontro do Patriarca Aléxis II
com o Cardeal Walter Kasper
Na alegria e nos sentimentos de comunhão que me animam e que animaram os meus Predecessores, sempre atentos ao povo russo, sinto-me feliz que Sua Santidade receba neste dia a Delegação por mim enviada. Guiada pelo Cardeal Walter Kasper e por Edgard Theodore McCarrick, ela tem a tarefa de entregar nas suas mãos este Ícone sagrado, tão estreitamente ligado à fé e à história dos cristãos na Rússia.

Por um desígnio insondável da Divina Providência, nos longos anos da peregrinação, a Mãe de Deus, no seu Ícone sagrado conhecido como Kazanskaya, reuniu à sua volta tanto os fiéis ortodoxos como os seus irmãos católicos de outras partes do mundo, que rezaram ardentemente pela Igreja e pelo povo que ela protegia há séculos. Mais recentemente, a Divina Providência permitiu que o povo e a Igreja na Rússia reencontrassem a liberdade e que o muro que separava a Europa do Leste da Europa do Oeste caísse. Apesar da divisão que, infelizmente, ainda persiste entre os cristãos, este Ícone sagrado mostra-se como um dos símbolos da unidade dos discípulos do Filho unigénito de Deus, d'Aquele para o qual ela guia todos nós.

O Bispo de Roma rezou diante deste Ícone sagrado, implorando que chegue o dia no qual poderemos proclamar ao mundo, com uma só voz e na comunhão visível, a salvação do nosso único Salvador e a sua vitória sobre todas as forças malvadas e ímpias que danificam a nossa fé e o nosso testemunho de unidade.

Uno-me hoje na oração a Vossa Santidade, caríssimo Irmão, ao Episcopado da Igreja ortodoxa russa, aos sacerdotes, aos monges e monjas de clausura, e ao Povo de Deus na terra russa. Todos os filhos e filhas da Igreja Católica se unem a esta oração, com a sua profunda devoção e veneração pela Santa Mãe de Deus. Que esta venerável imagem guie todos nós no nosso caminho evangélico no seguimento de Cristo, e proteja o povo ao qual ele regressa e toda a humanidade!

Que a Santa Mãe de Deus dirija o seu olhar materno para os homens e mulheres do nosso tempo; ampare os crentes, para que não se afastem do caminho que Deus traçou para eles:  a proclamação de Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e o testemunho corajoso da sua fé na sociedade e no conjunto das nações. Neste dia, rezamos com confiança à Santíssima Virgem, pois sabemos que ela implora para nós e para todas as nações o dom da paz.

Com estes sentimentos de caridade, na alegria ligada ao acontecimento que celebramos hoje, e com o olhar dirigido para a Santa Mãe de Deus, troco com Vossa Santidade um abraço fraterno em nosso Senhor.

Vaticano, 25 de Agosto de 2004.


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